Monday, November 01, 2010

Feira de Fotografia - Captura da Luz 4

Alberto Oliveira
Bruno Sandini
Célia Mello


Seja nas ruas, nos shows, ou nos eventos os mais diversos, a câmara tornou-se hoje complemento indispensável dos celulares, e está presente tanto nas mãos dos adultos como de crianças para registrar as cenas e os momentos cotidianos. E, diferente do passado, não mais eterniza o instante porque quase sempre, logo após a sua apreensão, essas imagens são rapidamente descartadas e delas nenhum traço mais resiste ao comando de “deletar”.
Não, porém, entre os apaixonados pela arte fotográfica. Estes se esmeram na busca de ângulos insólitos, de pontos urbanos ou cenas exóticas, de espaços ou gestos invisíveis para olhos acostumados à rotina que leva à miopia. Eles veem o que não é percebido por olhos já viciados. E uma prova disso foi a feira/exposição de fotografias na Vila Madalena, em São Paulo, no mezzanino da loja de artesanato russo Casa da Rússia. Ali, Célia Mello e outros renomados fotógrafos revelaram, ao público que os prestigiou, sua arte em frequente mutação porque em frequente busca pelo novo. É que esses artistas veem no ato de fotografar uma atividade de construção e desconstrução de um universo particular.
O olhar sobre o contexto, a natureza e o homem vem percorrendo um outro percurso desde que a captura da luz, e consequentemente da imagem, se processou no interior de uma câmera fotográfica. Pode-se até dizer que, por uma certa ótica, foi quase a vitória de um objeto mecânico sobre a mão adestrada do artista pictórico. Primeiro surgiu a preocupação em plasmar o real, registrá-lo como cópia fiel do existente. Aos poucos, a criatividade daquele que buscava o registro fotográfico como prova do que era visto foi enveredando por outros caminhos, não só pelos recursos aprimorados das objetivas e dos filtros que ofereciam nova e inesperada tonalidade às imagens, mas pela interferência do fotógrafo na busca de um efeito estético. Para trás foi ficando a ideia de foto apenas como prova documental ou registro histórico.
Hoje, as fotografias representam muito mais que a memória do vivido, do visualizado por outros antes de nós, carregada de nostalgia de um passado imovível, e que assim se cristaliza em nossa retina, elas representam também visões pautadas pelo estranhamento originado pelo trabalho do artista que manipula o negativo com recortes, sobreposições e tudo mais que seu espírito inventivo propuser, e expõe depois o resultado de sua técnica à crítica de outros olhares sobre sua arte, capaz de tornar mutante o mundo ali capturado em apenas um clic, mas agora muito especial.
Para aqueles que apreciam essa arte, o site de Célia Mello www.fotografiacontemporanea.com.br é um bom endereço eletrônico para ser visitado. Ali, há fotos e textos sobre fotografia que nos dão um panorama desse exercício do olhar que vem se tornando cada vez mais inovador e cada vez mais instigante.

Neiva Pitta Kadota – Professora de Comunicação da FAAP/SP e autora de diversas obras, entre elas O silêncio não é azul e Escritos descontínuos, ambas pela LCTE Editora.

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